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Yeshua era zeloso da Torá ou hipócrita?

Por: Cleiton Gomes 


Várias questões foram levantadas para dizer que Yeshua era um ferrenho opositor dos mandamentos da Torá. Contudo, este pensamento está absolutamente equivocado, bastando entender que Yeshua estudava e guardava o mandamento do Shabat nas sinagogas com os fariseus (Lucas 4:15-16), bem como ensinou que seus discípulos deveriam aprender a Escritura com os p'rushim (fariseus – Mateus 23: 1-3). Ele foi circuncidado ao oitavo dia conforme o mandamento e sua mãe se resguardou de relações sexuais com seu marido durante o período de Niddah conforme o mandamento (Lucas 2: 21-24 combinado com Levítico 12:1-8).


O Messias também fazia diferença entre os peixes puros e imundos demonstrando ter conhecimento de que não era para comer os imundos (Mateus 13:48 combinado com Levítico, cap.11), se importava em defender a importância do casamento entre homem e mulher (Mateus 19:3-6 combinado com Gênesis 2:24), se preocupava com o mandamento de honrar pai e mãe (Mateus 15:4 combinado com Deut. 5:16); também tinha prazer em declarar que o ETERNO é apenas UM e não uma sociedade de pessoas na divindade (Marcos 12:29-30 combinado com Deut. 6:4), bem como declarava ser importante o mandamento de amar o próximo como a si mesmo (Marcos 12:31 combinado com Levítico 19: 18,34). Para resumir, ele também dava muita importância aos memoriais festivos estabelecidos por mandamento, exemplo: ele, sua família e seus discípulos sempre participaram da festa de Pêssach e Matzot ("páscoa" e "pães ázimos" – Mateus 26:17-19; Lucas 2:41 combinado com Levítico 23: 4-8). Sem falar que ele também usava o Tsitsit nas franjas da sua veste conforme ordenava o mandamento (Mateus 5: 27-30 combinado com Números 15: 38-39). 


Por isso renomados estudiosos afirmaram:


GEZA VERMES:


A devoção de Jesus, nascido e educado judeu, era centrada na Torá, carta fundamental e principal marca distintiva da religião judaica [...] De sua perspectiva, mesmo as regras e regulamentos prosaicos da Torá sobre agricultura, negócios, sexo, alimentos etc., possuíam um significado espiritual poderoso. Assim, Jesus insistia na necessidade de obedecer a todos os detalhes dos regulamentos mosaicos, incluindo os preceitos rituais…” (O autêntico evangelho de Jesus, Editora Record, 2006, página 458).


PINCHAS LAPIDE:


Jesus [Yeshua] foi totalmente verdadeiro para com a Torá, como eu mesmo espero ser. Eu até desconfio que Jesus [Yeshua] fosse mais verdadeiro para com a Torá do que eu, um judeu ortodoxo” (The Resurrection of Jesus: A Jewish Perspective) 


Os céticos costumam dizer que Yeshua era contra a Torá, porque há textos afirmando que ele "violava o Shabat" (ex: João 5:18). Não obstante, a expressão "violar", se consultada no texto em aramaico e no grego, veremos que o real significado é "afrouxar", "soltar", "desatar" (Strong: G3089). Este era um termo técnico utilizado entre os professores da Torá do primeiro século, para se falar de situações em que uma atividade poderia ser realizada durante o dia de descanso sem que o mandamento fosse desobedecido. Por exemplo, a circuncisão é um serviço que às vezes era realizado durante o Shabat, mas não era considerado transgressão circuncidar uma pessoa durante este dia (João 7:22-24); outro exemplo: os sacerdotes exerciam muitas atividades durante o Shabat que não eram considerados transgressão, tanto que Yeshua falou que eles ficavam sem culpa (Mateus 12:5).


Algumas situações eram difíceis de serem compreendidas, levando alguns professores de Torá a pensarem que Yeshua estava desrespeitando o mandamento. Mas, outros um pouco mais sensatos, consideravam entender melhor a situação antes de "bater o martelo", e isso gerava conflito entre os próprios questionadores (João 9:16). Na verdade, o costume de realizar o bem no dia de Shabat vinha sendo praticado por outros estudiosos da Torá antes mesmo de Yeshua, quais sejam: os fariseus hileítas. 


Poucas são as pessoas sabendo terem existido duas principais escolas farisaicas, uma liderada pelo rabino Hilel, e outra pelo R. Shamai. Ambas as escolas tinham divergências teológicas, existindo muitos registros dos debates entre essas escolas. Enfim, o foco principal a falarmos é que os hileítas praticavam o bem no dia de Shabat curando pessoas picadas por cobras, alimentando doentes, salvando vidas, considerando estarem dentro dos termos de não-transgressão ao mandamento (Shabat 18:3; Tosefta Shabat 15:14; Tosefta Yoma 84:15). Daí surgiu a ideia de que "os hileítas afrouxavam e/ou desatavam o Shabat." Yeshua recebia apoio da escola farisaica hileíta neste ponto de vista, e ele estava certo, tanto que quando questionou os shamaitas sobre essa questão de afrouxar o Shabat, os tais não tiveram argumentos contra  (Mateus 12: 10-12; Marcos 3:4-5).


Além dessa questão de curas no Shabat, devemos mencionar também a questão de alimentar as pessoas neste dia, pois Yeshua permitiu que seus discípulos colhessem espigas de trigo para comer naquele dia (Lucas 6:1), depois citou que os sacerdotes deram alimentos para Davi e outros (Lucas 6:3-4), coisa que era aparentemente proibido. Muitos pensam ser proibido pela Torá alimentar os necessitados no dia de descanso, no entanto, não há nenhuma proibição na Torá neste sentido. Pelo contrário, o ETERNO deseja que o bem seja realizado em quaisquer dias da semana, por isso os rabinos afirmam: "Considerações pela vida prevalece sobre o Shabat" (Yoma 85b). 


De fato, há situações em que a Torá dá legalidade para que alguma atividade possa ser exercida, é tal como quando um carro de ambulância avança o sinal vermelho com os sinalizadores ligados durante sua jornada até o hospital. A pessoa não entendida das leis de trânsito logo pensará que aquele condutor deve ser multado, pois, avançou o sinal vermelho que a lei diz para não avançar. Mas, para o condutor que conhece as leis de trânsito, sabe que a lei dá legalidade para que tal ação seja realizada. É justamente isso que aconteceu com Yeshua, pois exerceu atividades no Shabat que realmente poderiam ser realizadas naquele dia, razão pela qual ele não violou este mandamento e não praticou pecado. Pois, se ele tivesse desobedecido ao mandamento jamais teria sido escrito que "ele não cometeu pecado e nem na sua boca se achou engano." (1 Pedro 2:22).


A verdade é que Yeshua jamais se posicionou como inimigo da Torá, pelo contrário, ensinou aos seus discípulos que para herdar a vida eterna é necessário praticar os mandamentos (Mateus 19:16-17), bem como para ser chamado "grande" no reino vindouro a prática dos mandamentos se torna necessária (Mateus 5:19). Ou você, leitor, não sabia que o Messias ordenou seus discípulos a aprender a Torá com os fariseus? (Mateus 23:1-3). Ele disse para aprender a Escritura com os fariseus, com a ressalva de não se tornarem hipócritas como alguns eram, e assim fazendo corretamente iriam "exceder a justiça dos fariseus" (Mateus 5:20). Fora que ele mesmo afirmou ser mais fácil os céus e à terra passarem que a menor letra da Torá (Mateus 5:18; Lucas 16:17), concordando com o pensamento judaico antigo, veja:


"Nenhuma letra da Torá jamais será abolida". (Shemot Rabá 6.1); 


"Se o mundo inteiro estivesse reunido para destruir o yud, que é menor letra da Torá, eles não seriam bem sucedidos". (Vayikrá Rabá 19).


Por fim, cabe destacar que o próprio Messias afirmou que os inimigos da Torá serão rejeitados como o joio, pois, os mesmos vivem em completo desprezo a Torá (Mateus 7: 22-23;  13:41). Nos textos citados será encontrada a expressão "iniquidade", que no texto em grego é "anomia" e significa: "desprezo e violação à lei" (Strong: G458). Isso mostra que Yeshua não é amigo, nem concorda com as pessoas que vivem em desprezo à Torá. Nem mesmo o apóstolo João concorda com o pensamento anomista, pois, afirmou que as pessoas que desprezam a Torá não são amigas de Yeshua, não são pessoas iluminadas pelo Espírito, não nasceram de novo, nem são considerados filhos de D'us, restando apenas afirmar serem servos do maligno (1 João 2: 3-6; 3:4-10). Tudo isso mostra que Yeshua se posicionou perfeitamente como professor da Torá, como já estava previsto nas profecias bíblicas (Ezequiel 37:24; Isaías 2:3), e mais: que levaria este conhecimento para as nações do mundo, por isso está escrito que "as ilhas esperam a sua lei" (Isaías 42: 1-4; Mateus 12:18-21 no manuscrito hebraico DuTillet, ver também: Mateus 28:19-20). 



Isso é tudo por enquanto. 


Seja iluminado!!!





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