Por: Cleiton Gomes
Algumas interpretações teológicas sugerem que o nome da mãe do rei Davi seria Naás. Segundo essa hipótese, Naás teria sido uma mulher moabita, anteriormente casada, que após ficar viúva foi acolhida por Jessé, tornando-se mãe de Zeruia, Abigail e também de Davi. No entanto, esse entendimento entra em conflito com uma leitura mais sólida das Escrituras, a qual mostra que Naás não era uma mulher, mas sim um homem. Textos como 2 Samuel 17:25 e 1 Crônicas 2:13-16, além da concordância Strong (H5176), indicam que Naás era um rei amonita na época de Saul.
Os textos de 1 Crônicas 2:13-16 indicam que Zeruia e Abigail eram irmãs de Davi, mas não afirmam que Jessé era o pai biológico delas. Por outro lado, 2 Samuel 17:25 mostra que Naás era o pai de Abigail. Isso nos leva a crer que o rei amonita Naás deixou duas filhas pequenas após sua morte. Jessé, então, acolheu a viúva como concubina e adotou as filhas. Podemos, assim, sugerir que Davi tenha sido o único filho nascido dessa união. E por não possuir linhagem israelita completa, seus irmãos, filhos legítimos de Jessé com uma israelita, passaram a tratá-lo como alguém inferior dentro da própria família. Dessa forma, Zeruia e Abigail seriam meias-irmãs de Davi, filhas da mesma mãe, mas com pais diferentes.
Existe uma tradição no Talmud, apontando que o nome dessa mulher, Mãe de Davi, tenha sido chamada Nitzevet (ou Natzavat), filha de Adael. Seu nome significa “a que nos estendeu [a salvação]”. Essa informação é encontrada em fontes judaicas, como o site Sefaria (veja AQUI), e é reforçada pelo conteúdo publicado no site da comunidade Chabad, que registra:
“O rei Davi possuía muitos grandes talentos e qualidades que o ajudariam a alcançar as tremendas conquistas de sua vida. Muitas dessas qualidades positivas foram herdadas de seu ilustre pai, Yishai (Jessé) […] Mas foi sem dúvida de sua mãe que o jovem David absorveu a força e a coragem para enfrentar seus adversários. Desde o momento em que nasceu, e durante seus anos mais tenros, foi Nitzevet quem, por exemplo, lhe ensinou a lição essencial de valorizar a dignidade de cada indivíduo e evitar constranger o outro, independentemente das consequências pessoais. Foi ela quem exibiu uma bravura e dignidade silenciosa, mas estóica, diante das mais graves dificuldades.
É de Nitzevet que o Rei David absorveu a força, nascida de uma confiança interior, para desconsiderar o tratamento insensível do mundo e encontrar consolo no conforto de seu Criador. Foi essa força que fortaleceria o rei Davi para derrotar seus antagonistas mais firmes e seus inimigos mais traiçoeiros, enquanto lutava valentemente contra os guerreiros mais poderosos em nome de seu povo.
Nitzevet ensinou seu filho pequeno a encontrar forças para seguir o caminho de suas convicções internas, independentemente da crueldade que pudesse ser lançada contra ele. Sua demonstração de paciente confiança no Criador de que a justiça seria feita deu a Davi a paz interior e o consolo de que ele precisaria, repetidas vezes, para enfrentar os formidáveis desafios de sua vida. Em vez de sucumbir às suas aflições, em vez de se tornar o indivíduo que foi evitado por seus algozes, Davi aprendeu com sua mãe a permanecer orgulhoso e digno, sentindo-se consolado ao se comunicar com seu Criador nos pastos abertos”. (Fonte: Chabad)
Diante dessa tradição, surgem algumas suposições populares que não se sustentam. Há quem afirme, por exemplo, que a mãe de Davi não era uma israelita, mas uma mulher voltada ao estilo de vida pagão, o que teria influenciado Davi a declarar no Salmo 51:5: “em pecado me concebeu minha mãe”. No entanto, essa interpretação ignora o contexto das próprias palavras do salmista, que em outros salmos deixa claro que sua mãe era uma mulher piedosa e dedicada ao ETERNO. Vejamos duas declarações feitas por Davi:
“Volta-te para mim e compadece-te de mim; dá a tua força ao teu servo e salva o filho da tua serva.” (Salmos 86:16)
“Sou teu servo, filho da tua serva; quebraste as minhas cadeias.” (Salmos 116:16)
Essas palavras revelam o respeito e a honra que Davi atribuía à sua mãe. Ele a chama de “serva do Altíssimo”, expressão que transmite claramente uma vida devota e piedosa. Portanto, a ideia de que ela seria uma mulher entregue à idolatria ou que teria cometido adultério não se sustenta. Foi justamente a partir dessa má interpretação que surgiu a farsa do chamado “pecado original”, segundo a qual todo ser humano já nasce pecador. (Para saber mais detalhes sobre a infância de Davi, clique AQUI)
E se Naás foi mesmo pai de Abigail e Zeruia? Como uma mulher israelita íntegra estaria casada com um rei estrangeiro, especialmente um rei moabita ou amonita, como Naás?
Possibilidades:
a) Casamento por circunstância política ou refúgio: Em tempos de crise ou perseguição, era comum que israelitas buscassem refúgio em outras terras (como Elimeleque e Noemi em Rute 1). Pode ter havido uma aliança política, casamento forçado ou de conveniência, como forma de proteção. Ela poderia ter sido entregue em casamento por sua família.
b) Nitzevet não era esposa, mas concubina de Naás: Outra hipótese é que ela tenha sido tomada como concubina por Naás, o que explicaria a ausência de uma cerimônia formal israelita. Após sua morte, ela foi acolhida por Jessé, o que também explicaria a complexidade familiar de Davi.
Prosseguindo,... Outra ideia equivocada sustenta que a mãe de Davi era moabita, com base em 1 Samuel 22:3-4, onde se diz que seus pais estavam em Moabe. No entanto, o texto não afirma que eram moabitas, apenas que buscaram refúgio ali. Isso era comum em tempos de perseguição ou instabilidade, e não implica em origem étnica. Davi era da tribo de Judá, um israelita legítimo, o que confirma que seus pais também pertenciam ao povo de Israel.
Em suma, apesar das hipóteses e teorias levantadas por alguns estudiosos, a tradição judaica preserva o nome de Nitzevet como a mãe de Davi, uma mulher íntegra, corajosa e profundamente ligada ao serviço do ETERNO. Seu exemplo marcou a formação espiritual e emocional de um dos maiores reis de Israel.
Que esse estudo inspire sua busca por conhecimento e discernimento.
Seja iluminado!!!
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