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Romanos 11 e a teologia da substituição

Por Cleiton Gomes

O capítulo 11 da epístola aos Romanos ocupa um lugar central na reflexão paulina sobre a relação entre Israel e as nações. Trata-se de um texto frequentemente mal interpretado, pois, ao longo dos séculos, foi utilizado como base para a chamada “teologia da substituição”, segundo a qual o ETERNO teria rejeitado o povo de Israel, elegendo em seu lugar uma nova comunidade espiritual: a Igreja cristã. Contudo, uma leitura cuidadosa e contextualizada de Romanos 11 demonstra que essa ideia não encontra respaldo nem na lógica argumentativa de Paulo nem nas Escrituras que ele mesmo cita como fundamento.

Logo no início do capítulo, o apóstolo elimina qualquer dúvida a esse respeito: “Digo, pois: terá o ETERNO rejeitado o seu povo? De modo nenhum!” (Rm 11:1). Ele se apresenta como prova viva de que Israel não foi rejeitado, afirmando: “Pois também eu sou israelita, da descendência de Abraão, da tribo de Benjamim.” Assim, Paulo evidencia que a fidelidade do ETERNO ao Seu povo permanece inabalável.


Para reforçar essa ideia, o apóstolo recorda o episódio de Elias, que acreditava ser o último profeta a permanecer fiel, mas o ETERNO lhe revelou que ainda havia sete mil homens que não se dobraram diante de Baal. Essa lembrança ilustra o princípio de que, mesmo em tempos de aparente rejeição, o ETERNO conserva um remanescente que garante a continuidade de Seu povo. A infidelidade humana, portanto, não anula a aliança divina estabelecida com os patriarcas.


É nesse contexto que Paulo introduz a metáfora da oliveira, uma das imagens mais ricas e simbólicas de toda a epístola. Ele descreve que alguns dos ramos naturais foram cortados por não darem frutos, mas explica que esses mesmos ramos podem ser enxertados novamente em sua própria oliveira (Rm 11:24). Essa metáfora retoma diretamente o pensamento profético de Jeremias, que, séculos antes, também havia comparado Israel a uma “oliveira verde, formosa e de bons frutos” (Jr 11:16).


A imagem da oliveira em Jeremias representa um povo cuidadosamente plantado, saudável e frutífero, mas que, pela infidelidade, sofreu o juízo do ETERNO. O fogo que consome seus ramos simboliza a disciplina divina que purifica a impureza espiritual. Ainda assim, a árvore não é destruída pela raiz; ela é ferida, mas permanece viva, preservando a possibilidade de restauração. Paulo amplia essa metáfora, aplicando-a ao seu tempo: o corte dos ramos é uma correção temporária, não uma rejeição definitiva.

A escolha da oliveira como símbolo é profundamente significativa. No mundo antigo, ela era um dos elementos centrais da vida israelita, associada à longevidade, à resistência e à capacidade de regeneração. O azeite extraído de seus frutos era usado no culto, na unção sacerdotal e no acendimento do candelabro do Templo, representando a presença divina. Ao chamar Israel de “oliveira verde e formosa”, o ETERNO reafirma que o povo foi plantado para refletir Sua luz e produzir frutos de justiça. Contudo, a infidelidade cortou a conexão entre alguns ramos e a raiz espiritual, levando à degeneração daqueles que se afastaram.

Paulo, portanto, não cria uma nova teologia, mas amplia uma metáfora já existente. O que Jeremias descreveu em termos de idolatria e desobediência, Paulo vê repetir-se em sua geração na rejeição ao Messias. Assim como o fogo divino purificou a oliveira nos dias do profeta, o corte dos ramos em Romanos tem caráter pedagógico: o objetivo é restaurar a santidade e renovar a aliança. O ETERNO não rejeita a árvore; trabalha nela para que volte a ser o que sempre foi — uma oliveira verde, formosa e frutífera.


Dessa metáfora emergem verdades inquestionáveis:


A) Alguns ramos foram cortados da boa oliveira, representando a exclusão temporária dos que se afastaram pela incredulidade.

B) Esses ramos naturais são os próprios israelitas, descendentes da raiz santa das promessas feitas aos patriarcas.

C) O corte não tem caráter definitivo, mas disciplinar, com o propósito de correção e purificação.

D) Os ramos separados podem ser novamente enxertados, caso retornem à fidelidade.

E) Conclui-se, portanto, que a boa oliveira é Israel, que permanece viva e não foi rejeitada pelo ETERNO, conforme atesta Romanos 11:1–2.


A árvore é, portanto, Israel, e os gentios foram enxertados nela por meio do Messias, participando da mesma seiva espiritual. O processo não implica substituição, mas inclusão. A presença dos gentios na comunidade da fé é sinal da ampliação da misericórdia divina, e não da rejeição do povo eleito.

Paulo adverte os gentios a não se gloriarem contra os ramos naturais: “Não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti” (Rm 11:18). Essa advertência revela sua preocupação com a possível arrogância teológica dos que, por desconhecimento, poderiam considerar-se herdeiros exclusivos das promessas. A imagem do enxerto é pedagógica e simbólica: a vida espiritual das nações depende da raiz de Israel, e não o contrário.


O ETERNO prometeu jamais rejeitar Israel por causa das alianças feitas com os patriarcas (Jr 31:35–37). Essa verdade é reafirmada por Paulo ao declarar que “os dons e a vocação do ETERNO são irrevogáveis” (Rm 11:29). O que houve, portanto, não foi rejeição, mas disciplina. Os ramos rebeldes foram cortados, e novos ramos foram enxertados para que a árvore continuasse a produzir frutos.


Esse mesmo princípio aparece em Efésios 2:11–13, quando Paulo recorda que os gentios estavam “sem o Messias, separados da comunidade de Israel e estranhos às alianças da promessa”, mas foram aproximados “pelo sangue do Messias”. Não há, portanto, duas comunidades distintas (uma judaica e outra gentílica) mas uma única família espiritual unida pela fidelidade do ETERNO às Suas promessas.


A história do primeiro século confirma essa perspectiva. O movimento de restauração iniciado por Yeshua surgiu no contexto do Judaísmo do Segundo Templo, tendo discípulos israelitas que observavam a Torá e anunciavam o cumprimento das promessas proféticas. Somente depois, esse anúncio foi estendido aos gentios. O livro de Atos (capítulos 10 e 11) mostra que a mensagem partiu de Jerusalém e foi levada às nações por mensageiros judeus, o que demonstra que a fé dos gentios foi enxertada na estrutura espiritual de Israel e não o contrário.

A cronologia bíblica é clara: Yeshua, judeu da Galiléia, formou discípulos judeus e os enviou primeiramente às ovelhas perdidas da casa de Israel. Só depois a mensagem alcançou os gentios. Rejeitar essa sequência é rejeitar a estrutura da própria revelação. Por isso, quando Paulo adverte: “Não te glories contra os ramos; se contra eles te gloriares, não és tu que sustentas a raiz, mas a raiz a ti” (Rm 11:18), ele está falando diretamente contra qualquer ideia de substituição ou soberba espiritual.


Os gentios que hoje tentam se desvincular da raiz judaica da fé estão, na verdade, cortando a si mesmos da árvore. Paulo explica que o endurecimento de Israel é parcial e temporário, até que a plenitude dos gentios entre, e então todo Israel será salvo (Rm 11:25-26). O propósito final do ETERNO não é substituir, mas reconciliar. A restauração completa envolverá tanto os ramos naturais quanto os enxertados, todos alimentados pela mesma raiz e pela mesma seiva espiritual.


Em síntese, Romanos 11 não apresenta uma doutrina de substituição, mas de reconciliação. Israel não foi rejeitado, mas preservado; os gentios não o substituíram, mas foram incluídos. A oliveira continua sendo a mesma, e o ETERNO permanece fiel ao pacto estabelecido com Abraão, Isaque e Jacó. A teologia paulina, longe de anular Israel, reafirma o valor eterno da aliança e a unidade do propósito divino: um só povo, uma só raiz e um só ETERNO que cumpre Suas promessas.



Seja iluminado!!!




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