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Paulo permitiu o consumo de alimentos sacrificados aos ídolos?

Por: Cleiton Gomes


Vamos explorar a interpretação das seguintes declarações de Paulo:


"Mas nem em todos há conhecimento; porque alguns até agora comem, com consciência do ídolo, coisas sacrificadas ao ídolo; e a sua consciência, sendo fraca, fica contaminada. Ora a comida não nos faz agradáveis a D’us, porque, se comemos, nada temos de mais e, se não comemos, nada nos falta.” –  1Co 8:7-8.


"Comei de tudo quanto se vende no açougue, sem perguntar nada, por causa da consciência.” – 1 Cor. 10:25


Vamos lá...


É comum os leitores utilizarem textos fora de contexto para sustentar as seguintes afirmações:


1) As regras alimentares prescritas na Torá foram abolidas;

2) Agora é permitido consumir qualquer tipo de carne animal;

3) É aceitável comer alimentos sacrificados aos ídolos;

4) Portanto, Yeshua aboliu a Torá.


No entanto, essas afirmações só seriam válidas se Paulo realmente apoiasse essas ideias. Vejamos o que ele disse sobre si mesmo em suas defesas:


1) Paulo afirmou que não era inimigo da Torá e que não atacava os mandamentos sobre alimentação (Atos 24:13-14; 25:6-7). Além de sua própria declaração, Tiago, outro importante líder entre os discípulos de Yeshua, testemunhou que Paulo não era inimigo da Torá (Atos 21:19-24).


2) Paulo não apoiava a ideia de comer alimentos sacrificados aos ídolos. Ele concordou com os demais apóstolos sobre essa questão (Atos 15:20, 29; 21:25). Afirmou que, embora o ídolo não seja nada, os alimentos sacrificados a eles são oferecidos na mesa de demônios, e ele não recomendava participar dessas práticas (1 Coríntios 10:18-21, 28).


À luz disso, podemos afirmar com segurança que Paulo entendia que um ídolo não tem valor real, pois é feito de objetos inanimados e não possui capacidade mental. No entanto, ele discordava firmemente da prática de consumir alimentos sacrificados aos ídolos, pois considerava qualquer sacrifício a eles um pecado grave de idolatria.

 


Quando analisamos a carta de Paulo aos Coríntios como um todo, sem divisões de capítulos e versículos (pois essa forma de diagramação não fazia parte da escrita apostólica), o entendimento do texto se torna mais claro:


Paulo destacou que havia um mercado que vendia carne de animais lícitos, que não eram oferecidos a sacrifícios idólatras. Por essa razão, ele afirmou que poderiam comer de tudo, mesmo que houvesse a suspeita de que a carne fosse proveniente de sacrifícios. Sua reputação era tão limpa que ele afirmou: “Comei de tudo”.


Como já mencionado, Paulo era totalmente a favor da Torá e defendia a ideia de que consumir alimentos oferecidos a ídolos é idolatria e participação na mesa de demônios. Não faria sentido ele dizer que poderiam comer de tudo daquele mercado se houvesse a possibilidade de que as carnes vendidas fossem reaproveitadas de sacrifícios idólatras.


É importante destacar que Paulo concordou que os gentios não poderiam comer carnes sufocadas (Atos 15). Isso nos leva à questão do abate dos animais. Na cultura judaica, existia o método de abate chamado shechitá, que garantia que o animal morresse sem sentir dor alguma. Ou seja, o animal não poderia ser morto com pauladas na cabeça ou enforcado, e seu sangue deveria ser derramado na terra e enterrado. Somente os israelitas tinham esse cuidado durante o abate dos animais.


Além disso, o abate shechitá só era aplicado em animais cujo consumo era permitido pela Torá. Portanto, os discípulos gentios estavam aprendendo sobre a alimentação bíblica através dos apóstolos. Assim, não poderiam comer qualquer tipo de carne de animais, nem mesmo praticar canibalismo.


Portanto, se Paulo aprovou o consumo de carne daquele mercado em questão, isso significa que ali era vendida carne de animais lícitos, permitidos pela Torá, e que passavam pelo abate shechitá.



Impossível existir um mercado assim em uma região gentílica? Claro que não! Havia mercados de carne casher devido à presença de israelitas dispersos pelas nações. Mercadores de Jerusalém e das terras de Israel abasteciam esses mercados com carne casher. Além disso, havia especialistas em abate kosher dentro dos próprios açougues. Assim, toda carne vendida nesses locais era lícita (referência de estudo: Talmud Bavli, Chulim 95a).


Você ainda pode estar pensando: "Isso é mentira! Paulo disse que se os incrédulos os convidassem para comer em sua casa, deveriam ir e comer sem questionar. Então, se o incrédulo servisse porco, deveriam comer sem perguntar nada."


A resposta para isso é bastante simples: os "incrédulos" naquele contexto eram discípulos gentios que estavam sob a mentoria apostólica. Habitavam em regiões onde a idolatria era comum, e acreditar em um único D’us supremo ainda era um desafio para eles. Por isso, ainda consideravam os ídolos como divindades. Paulo os chamou de "incrédulos" não porque fossem pagãos ou não-convertidos, mas porque ainda estavam em processo de aprendizado e aceitação do monoteísmo.


Esses discípulos, em estágio inicial de discipulado, temiam praticar idolatria se comessem carne com reputação de ser proveniente de sacrifícios idólatras. Mesmo comprando carne em açougues em conformidade com a Torá, tinham receios. Portanto, os mais entendidos, sabendo da origem casher (lícita) da carne, não deveriam fazer perguntas maliciosas que instigassem a consciência desses "incrédulos" e os deixassem receosos de comer.


Se aquele mercado vendesse carne de porco, coelho, cavalos, burros ou até carne humana, Paulo jamais teria recomendado seu consumo. Ele era firme na defesa da Torá, que proíbe o consumo de tais carnes. Portanto, a recomendação de Paulo só faz sentido se a carne vendida naquele mercado fosse estritamente de animais permitidos pela Torá e abatidos conforme o método lícito.


Para concluir, é importante ressaltar que Paulo sempre buscou promover a unidade e a compreensão entre os seguidores de Yeshua. Ele ensinou que, embora a carne em si não fosse contaminada, a consciência dos irmãos mais fracos na fé deveria ser respeitada. Portanto, o princípio de amor ao próximo e de evitar colocar tropeços diante dos irmãos era fundamental na abordagem de Paulo. Ele harmonizava a observância da Torá com a sensibilidade em relação aos desafios enfrentados pelos gentios que estavam aprendendo a seguir os ensinamentos de D’us. Isso reflete o equilíbrio entre a verdade das Escrituras e a necessidade de cuidar uns dos outros em sua jornada de fé.



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