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Estudo do Capítulo 24 de Mateus

Atenção: Este estudo busca explorar a possível relação entre as profecias de Yeshua no Capítulo 24 de Mateus e os eventos históricos que podem ter dado cumprimento a essas profecias ao longo da história. Ao examinar as palavras proféticas, pretendemos entender como elas se conectam com os eventos reais ocorridos naquela geração. O propósito é oferecer uma abordagem aberta e contextualizada do texto.

Certo, vamos começar…

Muitos estudiosos fundamentam suas análises nos relatos do capítulo 24 do livro de Mateus ao discutir os eventos futuros que afetarão o mundo. Apesar do respeito pela perspectiva daqueles que seguem essa abordagem, é relevante apontar que uma interpretação alternativa pode ser considerada. Por exemplo, ao examinar o livro de Mateus em seu contexto, observamos o Messias declarando que tais palavras seriam aplicáveis apenas à sua contemporaneidade:

Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre esta geração” (Mateus 23:36).

Igualmente, quando virdes todas estas coisas, sabei que ele está próximo, às portas. Em verdade vos digo que não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” (Mateus 24:33,34).

A assertiva “não passará esta geração sem que todas estas coisas aconteçam” sugere que os sinais descritos naquele contexto se aplicam a um período iminente, excluindo a interpretação de um futuro distante. Adicionalmente, Yeshua afirmou que o apóstolo João estaria presente durante esses eventos (João 21:20–23), o que não se alinha com a atualidade, considerando que João não está vivo. As declarações no livro de Mateus parecem estar vinculadas ao evento destrutivo do Segundo Templo em 70 d.C., pois abordam temas relacionados a Jerusalém e ao templo, veja:

Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas, e apedrejas os que te são enviados! quantas vezes quis eu ajuntar os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintos debaixo das asas, e tu não quiseste!” (Mateus 23:37).

Veja também: Mateus 24:2; Lucas 21:20; Marcos 13:1-2; Lucas 19:43-44


O historiador Flávio Josefo (37 d.C. – 100 d.C.), que presenciou a destruição do Templo no ano 70 d.C., registrou o seguinte:

“Quando Tito se retirou para a torre Antônia, resolveu atacar no dia seguinte pela manhã, dez de agosto, o Templo, com todo seu exército; e assim estava-se na véspera desse dia fatal, em que Deus tinha, há tanto tempo, condenado aquele lugar santo a ser incendiado e destruído depois de uma longa série de anos, como ele tinha outrora, no mesmo dia, sido destruído por Nabucodonosor, rei de Babilônia. Mas não foram estrangeiros, foram os mesmos judeus a causa única de tão funesto incêndio. Entretanto, os revoltosos não descansaram; deram outro ataque contra os romanos e travaram uma luta com os que apagavam o fogo por ordem de Tito. Os romanos puseram-nos em fuga e os perseguiram até o Templo.

Um soldado, então, sem para isso ter recebido ordem alguma, e sem temer cometer um horrível sacrilégio, mas, como levado por inspiração divina, fez-se levantar por um companheiro e atirou pela janela de ouro um pedaço de madeira aceso no lugar pelo qual se ia aos edifícios, ao redor do Templo do lado do norte.

O fogo ateou-se imediatamente; em tão grande desgraça, os judeus lançavam gritos espantosos. Corriam procurando apagá-lo e nada mais os obrigava a poupar suas vidas, quando viam desaparecer diante de seus olhos aquele Templo que os levava a poupá-las pelo desejo de conservá-lo.

De qualquer lado que se lançassem os olhos, só se viam fuga e mortandade. Matou-se um grande número de pessoas do baixo povo, gente desarmada e incapaz de se defender. Em volta do altar havia montes de cadáveres, que eram atirados, depois de assassinados, àquele lugar santo, o qual não era destinado a sacrificar tais vítimas; rios de sangue corriam por todos os degraus.

Dentro acendeu-se então uma grande labareda que obrigou Tito e os que o acompanhavam a se retirar sem que nenhum dos que estavam fora procurasse apagá-la. Assim, esse anto e soberbo Templo foi incendiado, não obstante todos os esforços de Tito para impedi-lo”. (Bibliografia: História dos Hebreus – De Abraão à queda de Jerusalém – Obra Completa, pg. 2275. Autor: Flávio Josefo. Editora CPAD. Copyright © 1990 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 24ª Impressão: Outubro 2013).


Ao explorarmos as profecias proferidas por Yeshua e examinarmos os relatos de Flávio Josefo, torna-se aparente o cumprimento dessas previsões. Por exemplo, o Mestre previu fome e terremotos em diversos lugares durante aquela geração (Mateus 24:7) e mencionou sinais vindos dos céus (Lucas 21:11). O livro “Atos dos Apóstolos” registra a ocorrência de eventos desse tipo após a ascensão do Messias aos céus:

E naqueles dias desceram profetas de Jerusalém para Antioquia. E, levantando-se um deles, por nome Ágabo, dava a entender pelo Espírito, que haveria uma grande fome em todo o mundo, e isso aconteceu no tempo de Cláudio César. E os discípulos determinaram mandar, cada um conforme o que pudesse, socorro aos irmãos que habitavam na Judéia”. (Atos 11:27-29).

Flávio Josefo confirma que naquela geração houve uma desordem da natureza, tempestades, trovões, tremores na terra:

Na noite seguinte, sobreveio uma horrível tempestade: a violência do vento, a impetuosidade da chuva, a quantidade de relâmpagos, o ribombar horrível do trovão, e um tremor de terra, acompanhado de rugidos, perturbou de tal modo a ordem da natureza, que todos julgaram presságio de grandes desgraças”. (Ob. Cit., pg. 2050).

Seneca, um filósofo e orador romano, nascido por volta de 4 a.C. e falecido em 65 d.C., registrou o seguinte:

Quantas vezes as cidades da Ásia, quantas vezes na Acaia, foram derrubadas por um único choque de tremor de terra! Quantas cidades na Síria, quantas na Macedônia, foram engolidas! Quantas vezes esse tipo de devastação colocou Chipre em ruínas! Quantas vezes Pafos entrou em colapso! Não raro são as notícias trazidas para nós da total destruição de cidades inteiras”. (Seneca em “Seneca Ad Lucilium Epistulae Morales”, traduzido por Richard M Gummere, Vol. 2, pg. 437).

Yeshua também previu que “todos os seus discípulos enfrentariam ódio e perseguição por proclamarem em seu nome” (Mateus 24:9; Lucas 21:12-19). A história confirma essa realidade, com perseguições marcantes, lideradas inicialmente por figuras como Paulo de Tarso (cf. Atos 8:1; Atos 12:1-5; Atos 18:12; Atos 25:6-12; Atos 25:13-14).

O Mestre anunciou que naquela geração ocorreria o abandono da verdade (“apostasia”) por muitos (Mateus 24:10-11). A evidência histórica respalda essa previsão, revelando que mesmo alguns que estudaram com os apóstolos se desviaram da verdade (cf. Romanos 16:17; 1ª Timóteo 1:18-20; 6:20-21; 2ª Timóteo 2:16-18). Além disso, fomos alertados sobre o surgimento de autoproclamados Messias (Mateus 24:4-5, 11-12, 23-26), conhecidos como “falsos messias” ou, em termos comuns, “anticristos”. João testemunhou que esse cenário já se concretizou:

Filhinhos, já é a última hora; e, como ouvistes que vem o anticristo, também, agora, muitos anticristos têm surgido; pelo que conhecemos que é a última hora. Eles saíram de nosso meio; entretanto, não eram dos nossos; porque, se tivessem sido dos nossos, teriam permanecido conosco; todavia, eles se foram para que ficasse manifesto que nenhum deles é dos nossos.” (1ª João 2:18-19; vide também: 2ª João 1:7-9).

O Messias também afirmou que esses eventos não se desencadeariam antes que as boas novas, o Evangelho, fossem proclamadas em todo o mundo (Mateus 24:14). Nesse contexto, “o mundo” está vinculado aos acontecimentos daquela geração. Paulo, em concordância, declarou ter difundido o Evangelho por todo o mundo (Romanos 1:8; Colossenses 1:23). Ao nos depararmos com a afirmação de que o Evangelho seria anunciado “em todas as nações debaixo do céu” ou “em todos os confins da terra”, devemos interpretar isso como referente às tribos situadas nos limites do território romano. Lucas, possivelmente o autor do livro de Atos, identificou quais eram as nações debaixo do céu naquela geração (Atos 2:5-11). Dessa forma, a expressão “confins da terra” pode ser entendida como “pessoas sob a autoridade de um reino”. O uso frequente da palavra “todos” nas Escrituras é muitas vezes uma hipérbole, um exagero extremo de expressão.

É claro que, no futuro, o Evangelho alcançará todas as nações de maneira abrangente, respaldado pela profecia de Isaías 9:7, que antecipa o aumento do reinado de Cristo e a instauração de uma paz eterna. Não por acaso, a missão do Messias vai além da de Moisés, aspirando disseminar o conhecimento divino a todas as nações (cf. Isaías 2:3; 42:1-4; Ezequiel 37:24).

O Messias é reconhecido como superior a Moisés, pois, enquanto este guiou uma única nação pelos princípios da Torá, o Messias tem uma missão universal: proporcionar conhecimento a pessoas de todas as nações acerca dos mandamentos da verdade (a Torá é a própria verdade – Salmos 119:142,151). Este é o entendimento rabínico de que o Messias é superior a Moisés:

… o Messias é o profeta tal como é dito no Midrash do versículo: ‘Eis que o meu servo prosperará’ (Isaías 52:13). (…) Moisés, pelos milagres que ele fez, trouxe uma única nação para a adoração de Deus, mas o Messias atrairá TODOS os povos para a adoração de Deus“. (Rabino Levi Ben Gershon (RALBAG), séc XIV).

… Como qualquer erudito, Mashiach tem o direito de revelar percepções da Torá adquiridas não profeticamente, mas por dedução. A grandeza do Mashiach, no entanto, estará em seu esclarecimento dos assuntos até então ocultos.” (Os Dias de Mashiach, Menachem M. Brod, página 146).

Continuando com as palavras do Mestre, Ele mencionou uma “abominável desolação” (Mateus 24:15). O relato no livro de Lucas reforça a correlação com a destruição do Segundo Templo de Jerusalém, estabelecendo uma ligação direta entre a desolação e esse evento crucial (Lucas 21:20-22). Surge a indagação: o que exatamente representa essa abominável desolação? Segundo o livro de Daniel, a desolação está associada a um grande poderio idólatra, em que o líder procura destruir e impor seu paganismo no território conquistado (Daniel 9:24-27; 11:31; 12:11). Daí, podemos muito bem atribuir essa característica ao líder que invadiu e destrui o Templo de Jerusalém.

Sobre isso escreveu Eusébio de Cesaréia, em História Eclesiástica:

Quem pois quiser saber com exatidão os males que então caíram sobre a nação em todo lugar, e como especialmente os habitantes da Judéia viram-se empurrados ao fundo das calamidades, quantos milhares de jovens, de mulheres e de crianças morreram pela espada, pela fome, e inúmeras outras formas de morte, e quantas e quais cidades da Judéia foram sitiadas, e também quantos horrores e pior do que horrores atingiram os que se refugiaram na mesma Jerusalém, por ser uma metrópole muito fortificada, assim como a índole de toda a guerra, os acontecimentos que nela se sucederam e como, finalmente, a abominação da desolação anunciada pelos profetas se instalou no próprio templo de Deus, tão célebre antigamente, que sofreu todo tipo de destruição e, por último, foi aniquilado pelo fogo: tudo isso encontrará na narrativa escrita por Josefo”. (Bibliografia: HISTÓRIA ECLESIÁSTICA, 1999, Ed. Novo Século. São Paulo 2002, pg. 54).

E ainda sobre essa desolação que viria sobre Jerusalém, é dito que os que quisessem se salvar deveriam viver em alerta, e até fugir para os montes se fosse necessário (Mateus 24: 16-22; Lucas 21:36). Sobre isso escreveu, Eusébio:

Também o povo da igreja de Jerusalém, por seguir um oráculo enviado por revelação aos notáveis do lugar, receberam a ordem de mudar de cidade antes da guerra e habitar certa cidade da Peréia chamada Pella. Tendo os que creram em Cristo emigrado até lá desde Jerusalém, a partir deste momento, como se todos os homens santos tivessem abandonado por completo a própria metrópole real dos judeus e toda a região da Judéia…”. (Ob. Cit., pg. 54)

E sobre os que não se atentaram aos sinais e não escaparam da cidade, foram feitos escravos e vendidos:

…os soldados, cansados de matar, só pensavam em se enriquecer. Vendiam gente do baixo povo, que sobrevivia ainda, depois de tantos males, mas obtinham pouco lucro, porque, ainda que eles fossem em grande número, tantos homens e mulheres como crianças eram vendidos por muito pouco e encontravam poucos compradores. Tito tinha mandado publicar que todos viessem com suas famílias, mas ele não deixava de recebê-los, mesmo quando vinham sozinhos e ordenou que pusessem de lado os que eram julgados dignos de morte. Assim uma grande multidão foi vendida e ele permitiu a mais de quarenta mil que se retirassem para onde quisessem”. (Bibliografia: História dos Hebreus – De Abraão à queda de Jerusalém, pg. 2302, Ed. CPAD. Copyright © 1990 para a língua portuguesa da Casa Publicadora das Assembléias de Deus. 24ª Impressão: Outubro 2013).

Foram feitos prisioneiros durante esta guerra noventa e sete mil homens e o assédio de Jerusalém custou a vida a um milhão e cem mil homens, dos quais a maior parte, embora judeus de nascimento, não eram nascidos na Judéia, mas lá se encontravam de todas as províncias para festejar a Páscoa e haviam ficado presos na cidade por causa da guerra”. (Ob. Cit., pg. 2309).

Caros amigos, há ainda muito a ser explorado, e ficaria evidente que a grande tribulação abordada no contexto do capítulo 24 de Mateus está diretamente associada à destruição do Templo de Jerusalém. Contudo, prefiro não prolongar muito mais. Caso tenha interesse, sinta-se à vontade para compartilhar sua posição teológica nos comentários. Estou aberto a sugestões e reflexões.

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