Por: Cleiton Gomes
Algumas pessoas afirmam que Yeshua não pode ser o legítimo Messias por causa de supostos erros nas genealogias apresentadas nos Evangelhos. Argumentam que há contradição entre Mateus 1:6-7, onde Yeshua é identificado como descendente de Salomão, e Lucas 3:31, que o apresenta como descendente de Natã. A dúvida surge porque, naturalmente, uma pessoa não poderia descender de dois filhos diferentes de Davi.
A explicação, no entanto, está na compreensão da lei do levirato, uma instituição prevista na Torá para preservar a linhagem de um homem que morresse sem filhos. Vejamos o mandamento:
"Quando irmãos morarem juntos, e um deles morrer, e não tiver filho, então a mulher do falecido não se casará com homem estranho, de fora; seu cunhado estará com ela, e a receberá por mulher, e fará a obrigação de cunhado para com ela. E o primogênito que ela lhe der será sucessor do nome do seu irmão falecido, para que o seu nome não se apague em Israel." (Deuteronômio 25:5-6).
Segundo a tradição judaica, Natã se casou, mas morreu sem deixar filhos. Salomão, seu irmão, então teria assumido a viúva, cumprindo o mandamento do levirato. Assim, o filho gerado biologicamente por Salomão com a viúva de Natã seria reconhecido legalmente como descendente de Natã, para que sua memória não fosse apagada de Israel. Isso significa que um mesmo indivíduo poderia ser considerado descendente legal de Natã e biológico de Salomão, o que resolve a aparente contradição entre os textos de Mateus e Lucas.
Essa interpretação tem base em fontes judaicas antigas. O rabino Shim'on Bar Yochai, por exemplo, escreveu:
“Tu que trazes boas novas a Sião” é Hefzibá (significa: meu deleite está nela), esposa de Natã, filho de Davi, que é a mãe do Messias, Menachem, filho de Amiel, que era seu descendente. Ela deve sair e trazer as boas novas sobre a Redenção e ela é parte do significado geral de: "Você que traz boas novas a Sião.” (Fonte: Parashat Shlach Lekha, Bemidbar/Números 45:298. Disponível em Zohar.com)
Ou seja, o Messias seria considerado descendente da esposa de Natã, e não necessariamente de Natã por filiação biológica, o que reforça a ideia do levirato como chave interpretativa.
O judeu ortodoxo Yehuda Shurpin também comenta esse tema:
"... [crer] que Mashiach será um descendente de Davi e Salomão é parte da décima segunda (das treze) crença fundamental judaica, conforme delineada por Maimônides. No entanto, é interessante notar que, embora esteja claro de todas as fontes acima que o Messias será um descendente do Rei Salomão, o Zohar parece afirmar que Mashiach será na verdade um descendente de Natã…"
(...)
"O famoso estudioso e cabalista judeu do século 20, Rabino Reuven Margolies, explica que o Zohar tem o cuidado de descrever o Mashiach como sendo um descendente da esposa de Natã, ao invés do próprio Natã. Natã faleceu sem filhos, e Salomão, seu irmão, casou-se com sua viúva, de acordo com as leis de yibum, casamento levirato. Em um casamento levirato, o filho primogênito da viúva e o irmão do falecido são considerados uma continuação da linha do marido morto. Portanto, Mashiach é referido aqui como “descendência” de Natã, embora ele seja um descendente do Rei Salomão." (Fonte: https://www.chabad.org/library/article_cdo/aid/1714864/jewish/Is-the-Messiah-a-Descendant-of-King-Solomon.htm).
Diante disso, vemos que os discípulos de Yeshua não estavam apresentando algo estranho ou novo. Ao contrário, estavam interpretando corretamente o contexto da genealogia messiânica dentro da própria tradição israelita. O uso do levirato para explicar a linhagem dupla de Yeshua é não apenas plausível, mas coerente com os costumes e mandamentos da Torá.
Seja iluminado!!!
1 Comentários
Certo, então teria ocorrido outro Levirato entre Jacó e Heli?
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