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A origem do conflito entre judeus e samaritanos

 Por Cleiton Gomes



A rivalidade entre judeus e samaritanos, mencionada em João 4:9, tem raízes profundas na história de Israel e remonta ao período do exílio da Casa de Israel. Quando o evangelista relata que “os judeus não se comunicam com os samaritanos”, não se trata apenas de uma observação cultural, mas do reflexo de séculos de desconfiança, separação religiosa e tensão étnica. Essa hostilidade tem origem no processo histórico que se seguiu à queda do Reino do Norte, evento que marcou definitivamente a identidade desses dois povos e a relação entre eles.

O conflito teve início em 722 a.C., quando o Império Assírio conquistou o território da antiga Casa de Israel, também conhecida como Reino do Norte. Após a conquista, os assírios aplicaram uma política de deportações e repovoamento que visava enfraquecer a identidade cultural e religiosa dos povos dominados. Dessa forma, os israelitas do Norte foram levados em cativeiro, e em seu lugar foram trazidos habitantes de várias regiões do império (2 Reis 17:24). Essa mistura de povos visava impedir qualquer tentativa de restauração do antigo reino, mas acabou dando origem a um fenômeno religioso e social único.

Nos primeiros anos após o repovoamento, a região foi assolada por ataques de leões, o que, segundo o relato bíblico, foi interpretado como um castigo do ETERNO, já que os novos moradores não conheciam as leis da terra (2 Reis 17:25-26). O rei da Assíria então enviou um sacerdote israelita de volta do exílio para ensinar aos novos habitantes como adorar ao ETERNO. Contudo, a tentativa de restauração do culto verdadeiro não teve êxito. O resultado foi a formação de uma religião híbrida, na qual os estrangeiros temiam o ETERNO, mas continuavam a servir seus próprios deuses (2 Reis 17:29-33).

Desse processo nasceu o culto samaritano, um sistema religioso híbrido que combinava elementos do monoteísmo israelita com práticas idolátricas das nações. Os samaritanos adotaram apenas o Pentateuco (os cinco primeiros livros de Moisés) como Escritura Sagrada, rejeitando os livros proféticos e históricos reconhecidos pelos judeus.

A hostilidade se intensificou após o retorno dos judeus do exílio babilônico, no século V a.C. Quando os samaritanos se ofereceram para ajudar na reconstrução do Templo, sob a liderança de Esdras e Neemias, sua oferta foi recusada (Esdras 4:1-3). A partir dessa rejeição, o abismo religioso e político entre judeus e samaritanos se tornou irreversível. Os samaritanos, sentindo-se excluídos, construíram seu próprio santuário no Monte Gerizim, consolidando sua separação espiritual e cultural, acreditando ser esse o verdadeiro local escolhido pelo ETERNO, em contraste com Jerusalém, onde os judeus haviam centralizado o culto (cf. João 4:20).

Ao longo do período do Segundo Templo, as tensões se agravaram. Fontes históricas, como Flávio Josefo, relatam conflitos, profanações e atos de hostilidade entre ambos. Para os judeus, os samaritanos eram um povo impuro, descendente de estrangeiros e apóstatas da fé de Israel. Já os samaritanos acusavam os judeus de corromper a Torá e desviar o culto do verdadeiro local sagrado. Essa animosidade se enraizou tanto na vida religiosa quanto na política, criando uma barreira quase intransponível entre as duas comunidades.

No contexto da era apostólica, essa rivalidade ainda estava viva. Quando Yeshua conversa com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó (João 4:7-26), o episódio adquire um significado teológico profundo. O fato de um judeu dialogar publicamente com uma samaritana, e ainda lhe revelar que Ele é o Messias, era um gesto que rompia tabus culturais e religiosos.

Yeshua demonstra, com esse ato, que a salvação não estava mais condicionada à localização geográfica do culto, seja Jerusalém ou Gerizim, mas à adoração “em espírito e em verdade” (João 4:21-24).

Esse encontro representa mais do que um simples diálogo. Ele simboliza o início da reconciliação espiritual entre as partes divididas de Israel. Yeshua atua como mediador do retorno à unidade, cumprindo as profecias que falavam da restauração entre Efraim e Judá (Isaías 11:12-13; Ezequiel 37:15-22). Ao aproximar judeus e samaritanos, Ele demonstra que o propósito do ETERNO sempre foi restaurar um só povo, uma só fé e um só Reino.

Portanto, o conflito entre judeus e samaritanos não foi apenas étnico ou territorial, mas sobretudo teológico e espiritual. Ele simboliza a ruptura da unidade de Israel após a divisão dos reinos e a degeneração do culto verdadeiro por meio do sincretismo. Assim, a tensão histórica entre judeus e samaritanos torna-se, nas palavras e ações de Yeshua, um poderoso símbolo da restauração universal anunciada pelos profetas: o tempo em que “Efraim não invejará Judá, nem Judá oprimirá Efraim” (Isaías 11:13), e todos adorarão o ETERNO como um só povo e sob um só Rei.


Seja iluminado!!!








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