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História de Malco

Por Cleiton Gomes

O episódio de Malco, narrado nos evangelhos, ocorre no momento decisivo da prisão de Yeshua no Getsêmani. Após concluir a oração, ele é confrontado por uma comitiva enviada pelos principais sacerdotes e líderes do Templo. Entre os presentes estava Malco, identificado por João como servo do sumo sacerdote (João 18:10). Naquele período o sumo sacerdote era Caifás, figura central nas articulações que levaram ao julgamento e condenação de Yeshua (Jo 18:13; Mt 26:3, 57).

O nome Malco deriva do hebraico e aramaico Melekh, que significa rei ou reinado. Embora os evangelhos não ofereçam informações detalhadas sobre sua vida, o fato de servir diretamente ao sumo sacerdote revela que possuía proximidade com o centro de autoridade religiosa em Jerusalém. Essa função exigia confiança e responsabilidade, podendo envolver tarefas administrativas, representações formais e possivelmente participação em escoltas e diligências ligadas ao Templo (cf. 1 Samuel 2:11).

Embora alguns interpretem que Malco pudesse estar em fase de treinamento para se tornar sacerdote, é preciso reconhecer que não há evidências bíblicas e históricas afirmando isso. O que temos é a descrição de que ele era “servo do sumo sacerdote”. O termo “servo” no contexto do Segundo Templo poderia designar desde um escravo literal até um assistente de confiança, possivelmente livre, que servia em funções de apoio ao sumo sacerdote.

A tradição judaica menciona que muitos dos servos próximos ao sumo sacerdote eram homens de confiança indicados por famílias influentes, mas não necessariamente candidatos ao sacerdócio. O próprio Josefo, historiador do século I, relata que o sumo sacerdote possuía auxiliares de diversas origens para executar ordens, prender suspeitos e mediar contatos com as autoridades romanas (Antiguidades Judaicas 20.6.2).

No relato de João 18:10, Malco é descrito como doulos tou archiereōs, expressão grega que significa “servo do sumo sacerdote”. No contexto do Segundo Templo, o termo doulos possuía um significado amplo, podendo designar desde um escravo literal até um assistente de confiança ou agente oficial incumbido de tarefas específicas. Essa amplitude semântica impede conclusões apressadas sobre sua condição social ou origem. É plausível que Malco fosse um funcionário de alto nível no serviço pessoal de Caifás, envolvido em missões administrativas ou de escolta, o que explicaria sua participação na prisão de Yeshua. Tal função exigia proximidade com o centro de poder religioso e conferia autoridade para agir em nome do sumo sacerdote, mas não implica necessariamente que ele fosse levita ou candidato ao sacerdócio.

Portanto, afirmar que Malco estivesse formalmente em formação para o sacerdócio requer cautela, pois não existe qualquer prova documental que o confirme, seja na literatura rabínica, seja nas fontes históricas. A suposição se apoia apenas na proximidade de sua função com o sumo sacerdote e no fato de a orelha direita ter um papel simbólico e litúrgico no rito de consagração sacerdotal (Lv 8:22-24). 

É sabido que, segundo a Torá, qualquer defeito físico poderia desqualificar um homem do serviço sacerdotal, e que, na unção, o sangue era aplicado justamente na ponta da orelha direita (Lv 8:22-24; 21:21). Pedro atingiu precisamente esse ponto (Mt 26:51; Mc 14:47; Lc 22:50-51; Jo 18:10), o que torna a cena carregada de simbolismo. Ainda assim, a interpretação de que o golpe buscou ou resultou na desqualificação de um futuro sacerdote, embora sugestiva, permanece especulativa, já que não há registros que identifiquem Malco como levita ou candidato ao sacerdócio.

Esse episódio também evidencia de forma marcante o contraste entre a expectativa de Pedro e o propósito de Yeshua. Enquanto o discípulo ainda concebia a possibilidade de resistir pela força, o Mestre se submetia voluntariamente à prisão como parte do caminho para cumprir a missão profetizada (Isaías 53:7; Mateus 26:54). Ao curar Malco, Yeshua não apenas impediu que o conflito se intensificasse, como também preservou Pedro de uma provável retaliação imediata, demonstrando que o seu Reino não se fundamenta na violência, mas na justiça e na paz (João 18:36). 

O evangelho de João acrescenta que, ao se identificar aos soldados, Yeshua provocou a queda deles (João 18:6). Embora não haja clareza se isso foi resultado de uma manifestação visível de glória ou da autoridade de suas palavras, o efeito foi imediato: por um instante, aqueles que vieram prendê-lo recuaram, deixando claro que sua entrega não era sinal de fraqueza, mas fruto de uma decisão consciente (João 10:17-18). 

Em síntese, a narrativa de Malco transcende o papel de mero detalhe na prisão de Yeshua. Ela integra elementos do contexto histórico do serviço sacerdotal, revela a reação impulsiva de um discípulo e expõe a intervenção misericordiosa do Messias, que ao devolver a integridade física a um de seus opositores reafirmou que sua missão é restaurar, reconciliar e trazer vida onde antes havia ameaça de morte (João 10:10).



Seja iluminado!!! 



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