Por Cleiton Gomes
O leitor atento das Escrituras certamente já se deparou com as expressões “Casa de Israel” e “Casa de Judá”, embora, por falta de compreensão, talvez não tenha percebido a profundidade de seus significados. A correta distinção entre essas duas expressões é fundamental para entender a história da divisão do povo de Israel e as promessas proféticas de sua futura restauração. Para compreender essa temática, é necessário observar três momentos essenciais: o Reino Unido, o Exílio e a Dispersão e, por fim, o Reagrupamento ou Restauração.
1. O Reino Unido
As Escrituras relatam que Jacó gerou doze filhos, dos quais surgiram as doze tribos de Israel (Êxodo 1:1-4). Durante muitos anos, essas tribos viveram unidas sob um mesmo propósito e governo, sobretudo nos reinados de Davi e Salomão. Esse período de unidade, conhecido como Reino Unido de Israel, foi marcado por prosperidade e estabilidade espiritual. No entanto, após a morte de Salomão, as tensões internas, agravadas por decisões políticas e econômicas, resultaram na ruptura do reino.
2. Exílio e Dispersão
Quando Roboão, filho de Salomão, assumiu o trono, o povo solicitou a redução da pesada carga tributária imposta por seu pai. Contudo, em vez de aliviar os impostos, Roboão aumentou ainda mais as exigências (1 Reis 12:1-14). Essa decisão provocou uma grave crise política que culminou na divisão do reino.
Dez tribos se rebelaram contra Roboão e proclamaram Jeroboão como seu rei, estabelecendo o Reino do Norte, conhecido como “Casa de Israel”, “Casa de José” ou “Casa de Efraim”, cuja capital foi Samaria (1 Reis 12:20). Permaneceram leais a Roboão apenas as tribos de Judá e Benjamim, juntamente com alguns levitas que continuaram o serviço sacerdotal no Templo. Esse grupo formou o Reino do Sul, também chamado “Casa de Judá”, com capital em Jerusalém (1 Reis 12:21-24).
A divisão, embora política, possuía um propósito espiritual. O ETERNO permitiu tal cisão para cumprir Suas promessas feitas a Abraão, de que sua descendência seria numerosa e se espalharia entre as nações (Gênesis 22:14-18). Essa dispersão foi simbolicamente atribuída a Efraim, filho de José, a quem Jacó abençoou dizendo que dele sairia uma “multidão de nações” (Gênesis 48:17-19).
Com o passar do tempo, Jeroboão, temendo que seu povo voltasse a Jerusalém para adorar no Templo e servissem ao seu antigo rei, criou centros de adoração próprios e instituiu ídolos em Betel e Dã (1 Reis 12:26-33). Essa idolatria afastou o Reino do Norte da Torá e estabeleceu um sacerdócio ilegítimo. O Reino do Sul, embora mais estável, também enfrentou períodos de infidelidade espiritual.
A Torá já havia advertido que a desobediência traria o exílio como punição (Deuteronômio 28:62-67). Assim, a idolatria do Reino do Norte desencadeou o cumprimento dessa cláusula. Sob o governo de reis como Acabe e seus sucessores, a Casa de Israel mergulhou em corrupção e apostasia. Apesar de advertências proféticas e breves momentos de arrependimento, o juízo tornou-se inevitável. Em 722 a.C., os assírios, comandados por Salmaneser V e depois por Sargão II, conquistaram Samaria e levaram as dez tribos ao exílio (2 Reis 17:1-23).
Durante o cativeiro, os assírios repovoaram Samaria com povos estrangeiros. Esses novos habitantes, misturando suas crenças com elementos do culto israelita, originaram o sincretismo samaritano (2 Reis 17:24-41). Essa mistura religiosa explicaria, séculos depois, a tensão entre judeus e samaritanos (João 4:9).
Após o cativeiro, alguns israelitas retornaram à terra, mas muitos permaneceram dispersos entre as nações e foram assimilados culturalmente (Oséias 8:8; 9:17). Esse processo deu origem à expressão “as tribos perdidas da Casa de Israel”. Por sua contínua infidelidade, o ETERNO concedeu à Casa de Israel uma “carta de divórcio” (Jeremias 3:7-14), enquanto a Casa de Judá foi preservada por causa da promessa feita a Davi e da linhagem messiânica.
3. Reagrupamento e Restauração
Embora o ETERNO tenha disciplinado a Casa de Israel, Ele prometeu que Sua ira não seria eterna. Por meio dos profetas, anunciou uma nova aliança com a Casa de Israel e a Casa de Judá (Jeremias 31:31-34), restaurando o vínculo rompido. Essa promessa aponta diretamente para a obra redentora do Messias, o agente da reconciliação (Ezequiel 37:24; Isaías 42:1-6).
Yeshua identificou Sua missão ao declarar que veio “buscar as ovelhas perdidas da Casa de Israel” (Mateus 15:24). Sua obra visava restaurar as tribos dispersas e unificar novamente os reinos espiritualmente divididos. Embora o Reino do Norte e o Reino do Sul já não existissem como entidades políticas, a divisão entre os grupos permaneceu simbolicamente, manifestando-se em preconceitos e disputas religiosas. As profecias, porém, asseguram que o Messias porá fim a essa separação (Isaías 11:12-13; Jeremias 3:16-18; Ezequiel 37:15-28).
As tribos do Reino do Norte, espalhadas entre os gentios, foram assimiladas às nações (Jeremias 50:6). Por isso, quando Yeshua chamou Seus discípulos para serem “pescadores de homens” (Mateus 4:19; Jeremias 16:14-16), a metáfora simbolizava o resgate tanto dos remanescentes de Israel quanto dos gentios naturais. O Messias ordenou que as boas novas fossem proclamadas entre todas as nações (Mateus 28:19-20), demonstrando que o alcance de Sua obra seria universal.
Esse conceito também está presente na parábola da rede (Mateus 13:47-48), em que a mensagem é lançada sobre as “águas das nações” e recolhe diversos tipos de “peixes”. Nessa visão profética, tanto israelitas dispersos quanto gentios de origem não israelita são chamados a fazer parte do mesmo Reino.
Quando Pedro recebeu a visão do lençol com diferentes animais (Atos 10), o ETERNO revelou que não fazia distinção entre judeus e gentios no tocante à salvação (Atos 11:19-26). Assim, o muro de separação foi derrubado, conforme ensina Paulo em Efésios 2:11-22, e a aliança foi estendida a todos os povos (Deuteronômio 29:14-15).
Atualmente, muitos descendentes das tribos do Norte permanecem dispersos e em cativeiro espiritual, aguardando o tempo em que a mensagem da restauração chegará a seus ouvidos. Quando essa proclamação alcançar sua plenitude, o Messias reunirá os remanescentes de Israel juntamente com os gentios que creram. Todo aquele que aceita Yeshua é acolhido como membro da família do ETERNO, independentemente de origem genealógica (João 6:37-40).
O retorno final do Messias ocorrerá após o cumprimento do período descrito como “a plenitude dos gentios” (Romanos 11:25-30). Essa expressão, conforme explicado em outro estudo, possui ligação direta com a profecia dada a Efraim, a quem Jacó declarou que se tornaria uma “multidão de nações” (melo hagoyim, Gênesis 48:17-19). A restauração final das doze tribos e a reintegração das nações fiéis à aliança ocorrerão nesse tempo, quando Yeshua estabelecer Seu Reino e renovará o vínculo matrimonial entre a Casa de Israel e o ETERNO. Esse processo, contudo, será minucioso e exigirá purificação e arrependimento, como será abordado na próxima parte deste estudo.
Estudo recomendado: A plenitude dos gentios
https://www.defesadatora.org/2025/11/a-plenitude-dos-gentios.html
Seja iluminado!!!
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