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YHWH: O Nome Esquecido

Por Cleiton Gomes


Poucos temas causam tanto estranhamento à primeira vista quanto a discussão sobre a pronúncia e a preservação do nome do Criador. Para muitos, trata-se de um detalhe irrelevante, algo restrito a debates linguísticos ou a formalidades religiosas. No entanto, uma leitura honesta e cuidadosa das Escrituras Hebraicas revela que o nome do ETERNO ocupa um lugar central na aliança, na identidade espiritual do povo de Israel e na revelação de quem Ele é.

Desde os primeiros registros, nota-se que o ETERNO sempre desejou tornar conhecido o seu nome entre os homens (Êxodo 3:15). Não se trata apenas de uma designação vocal, mas de uma comunicação direta do seu ser. Na mentalidade semita, o nome representa a essência de alguém: carrega identidade, missão e propósito. Diferentemente das culturas modernas, em que nomes como Carlos e Marcelo são escolhidos por gosto pessoal ou tradição familiar, no pensamento bíblico o nome revela a natureza do indivíduo. Por isso, figuras como Avraham (Abraão), Yaakov (Jacó) e Yosef (José) possuem nomes que marcam acontecimentos espirituais decisivos em suas trajetórias. O nome, portanto, não se limita a um som ou grafia, mas expressa um ser que existe por si mesmo, que está presente e ativo, que cumpre suas promessas e manifesta sua vontade no tempo certo.

Quando o ETERNO se apresenta a Moisés no episódio da sarça ardente, Ele diz: “Eu sou o que sou” (Êxodo 3:14). A frase hebraica usada é “Ehyeh Asher Ehyeh”, e comunica uma ideia de ser contínuo, presente e autossuficiente. Em seguida, Ele se identifica com o nome representado pelas quatro letras hebraicas yod, hê, vav, hê (יהוה), transliteradas como YHWH, o chamado Tetragrama. Essa estrutura deriva do verbo hebraico hayah (ser), e carrega em si a ideia de eternidade: aquele que é, que era e que será. Logo, poderia ser entendido como: “Eu serei o que serei”. É uma revelação profunda de um ser eterno, dinâmico, que age, guia e permanece.

Nesse contexto, o nome não é um som vazio. É uma declaração de fidelidade, de soberania e de justiça. O próprio ETERNO afirma: “Este é o meu nome para sempre, e assim serei lembrado de geração em geração” (Êxodo 3:15). Essa afirmação deixa claro que o nome deve ser conhecido, preservado e transmitido. Ele não foi dado para ser ocultado, mas para ser proclamado entre as nações.

Ao longo das Escrituras, o Tetragrama aparece mais de seis mil vezes, o que evidencia que o ETERNO nunca tratou seu nome como um segredo esotérico a ser escondido. Pelo contrário, Ele desejou que seu nome fosse proclamado entre os povos e reconhecido em toda a terra. Esse não é um detalhe periférico da fé bíblica, mas um dos seus fundamentos centrais. O salmista declara: “Os que conhecem o teu nome confiam em ti” (Salmo 9:10). O profeta Isaías anuncia: “O meu povo conhecerá o meu nome” (Isaías 52:6). E Joel proclama: “Todo aquele que invocar o nome de YHWH será salvo” (Joel 2:32). Esses textos revelam que conhecer o nome do ETERNO está diretamente relacionado à confiança, à salvação e ao relacionamento íntimo com Ele.

Além da forma absoluta YHWH, o nome do ETERNO também aparece em composições que revelam seus atributos e sua ação redentora. Em Gênesis 22:14, Ele é chamado de YHWH Yir’eh, “o ETERNO proverá”, expressando sua provisão fiel. Em Juízes 6:24, surge como YHWH Shalom, “o ETERNO é paz”, destacando sua presença restauradora. Em Jeremias 23:6, Ele é nomeado YHWH Tsidkenu, “o ETERNO é nossa justiça”, mostrando seu compromisso com a retidão. Cada uma dessas expressões revela uma dimensão moral e relacional do ETERNO. Ele é refúgio porque acolhe. É justiça porque restaura. É paz porque sustenta. Nenhuma dessas designações cria múltiplas divindades, mas aprofunda a revelação do único Nome.

Por isso, o nome do ETERNO está diretamente associado ao seu caráter. Pronunciá-lo, no contexto bíblico, não é apenas repetir sílabas com reverência, mas invocar uma presença real, reconhecer sua autoridade e confiar em sua fidelidade. O nome carrega uma identidade que não pode ser banalizada. Profaná-lo é desonrar a essência daquele que o carrega. É por isso que, na tradição israelita, tomar o nome do ETERNO em vão é tratado com tanta seriedade. O nome deve ser honrado não apenas nos lábios, mas nas ações.

Com isso em mente, entendemos que o verdadeiro respeito ao nome do ETERNO vai muito além da correção fonética. A pronúncia, embora relevante, não se sustenta sem coerência de vida. Aqueles que afirmam carregar esse nome devem refletir em suas ações os atributos do Criador. A Escritura não nos chama apenas a falar esse nome com cuidado, mas a viver de acordo com o que ele representa. O profeta Miquéias resume essa exigência ao dizer que o ETERNO requer do ser humano justiça, misericórdia e humildade (Miquéias 6:8).  

Quando o ETERNO revela seu nome, ele não está apenas comunicando como deve ser chamado. Ele está oferecendo a oportunidade de conhecê-lo em profundidade. Está permitindo que entremos em aliança com ele, não com base em fórmulas mágicas ou repetições, mas por meio de um relacionamento vivo e coerente. O nome do ETERNO é, portanto, uma janela para o seu coração. Conhecê-lo é o início de uma jornada de transformação. E fazer esse nome conhecido é espalhar, por palavras e por obras, o reflexo do seu caráter ETERNO.

Com o passar do tempo, especialmente após o cativeiro babilônico, estabeleceu-se entre os judeus o costume de evitar a pronúncia do nome do ETERNO. A intenção original era impedir que o nome fosse profanado por nações estrangeiras, o que levou ao uso de substituições reverentes como Adonai, que significa "Senhor", ou HaShem, que quer dizer "O Nome". Apesar de aparentemente respeitosa, essa prática resultou no esquecimento gradual da pronúncia original. A Septuaginta, primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, ainda preservava o Tetragrama em algumas cópias antigas, mas traduções posteriores adotaram o termo Kyrios (Senhor) como substituto. Com isso, a ocultação do nome acabou sendo institucionalizada e replicada nas traduções modernas da Bíblia.

Esse apagamento se relaciona diretamente ao terceiro mandamento, que tradicionalmente é traduzido como “não tomarás o nome do SENHOR teu Deus em vão” (Êxodo 20:7). No entanto, no texto hebraico original, o mandamento possui um alcance mais profundo. O verbo nasa pode significar levar, remover ou elevar, enquanto a palavra shav se refere a falsidade, vaidade ou nulidade. Com isso, o mandamento adquire um peso mais profundo: “não carregarás o nome de YHWH para a falsidade ou para o vazio”. A ideia não é apenas evitar juramentos irresponsáveis, mas impedir que o nome do ETERNO seja substituído por algo falso, afastado do seu propósito, escondido ou vazio de verdade espiritual.

Substituir o nome do ETERNO por termos genéricos como “Senhor”, embora muitas vezes usado sem má intenção, representa, à luz do texto original, uma forma de romper com a integridade da revelação. O nome que deveria ser lembrado, proclamado e invocado passou a ser trocado por palavras que não carregam sua força, sua história nem sua identidade. O terceiro mandamento exige mais do que reverência verbal. Ele exige fidelidade ao nome revelado, integridade no seu uso e coerência com o seu significado espiritual. Esquecer, silenciar ou substituir esse nome é levar sua identidade ao esquecimento.
Esse distanciamento linguístico e teológico criou espaço para que interpretações errôneas sobre o Criador se multiplicassem. Sem o nome, perdeu-se parte da identidade divina revelada, permitindo que Ele fosse tratado como um “deus genérico”,  adaptável a diferentes tradições e teologias. Mas o ETERNO nunca desejou isso. Ele quer ser conhecido, lembrado e proclamado por aquilo que verdadeiramente é.

Nos últimos tempos, observou-se um movimento crescente de pessoas interessadas em restaurar a pronúncia original do nome do ETERNO. Mas, esse movimento trouxe consigo erros graves de pronúncia e invenções linguísticas sem base. Algumas das formas mais populares que surgiram nesse contexto são “Yau” e “Yausha”, supostamente representando o nome do ETERNO e do Messias. Essas formas, porém, são insustentáveis do ponto de vista gramatical. Não há registro nos manuscritos da Bíblia Hebraica que justifique essas pronúncias.

A estrutura do nome divino obedece a regras fonológicas e morfológicas bastante rigorosas, fundamentadas em raízes triconsonantais. O tetragrama YHWH (יהוה) tem por base a raiz hayah (היה), e essa raiz não admite a substituição do vav por uma vogal “u” isolada, nem a simplificação radical que resulta em “Yau”.  No hebraico bíblico, quando o nome YHWH aparece no início de nomes próprios, ele é vocalizado como Yeho, como em Yehoshafat (2 Crônicas 17:3), Yehoiakim (2 Reis 23:36), Yehonatan (1 Samuel 14:6). Quando aparece no final do nome, torna-se yahu, como em Eliyahu (1 Reis 17:1), Yesha’yahu (Isaías 1:1) e Tsefanyahu (Sofonias 1:1). Essa estrutura é coerente e constante em toda a Bíblia Hebraica e em inscrições arqueológicas do período do Primeiro Templo.

A forma “Yau” não aparece em nenhum desses registros. Trata-se, portanto, de uma criação recente, sem sustentação textual ou fonética. Sua popularização parece ter mais relação com suposições intuitivas do que com o estudo aprofundado das fontes. O mesmo se aplica à forma “Yausha”, que tenta combinar o Tetragrama com o termo hebraico para “salvação”. Essa construção ignora completamente a morfologia hebraica. O nome correto derivado de “salvar” (raiz ישע) na forma teofórica é Yehoshua (יְהוֹשֻׁעַ), que significa “YHWH é salvação” (Neemias 8:17), e que posteriormente aparece de forma reduzida como Yeshua (ישוע).

A forma abreviada Yeshua (ישוע) é atestada em livros como Esdras (2:2) e Neemias (7:7), sendo usada por judeus fiéis à Torá. Além disso, o nome Yeshua é preservado em importantes manuscritos da B’rit Chadashá, como o Siríaco Antigo (Curetônio), a Peshitta, o Codex Sinaítico em siríaco e outros textos de tradição aramaica. Não existe nenhum documento histórico ou manuscrito confiável que registre “Yausha” como forma legítima. Sua existência, portanto, viola as regras do hebraico bíblico, pois mistura sons e radicais de forma gramaticalmente impossível.

A busca pela correta vocalização do nome do ETERNO não deve ser tratada como um exercício de vaidade linguística, mas como um esforço de fidelidade à revelação original. As Escrituras instruem a lembrar e invocar esse nome de geração em geração, e a tradição dos nomes teofóricos oferece pistas consistentes sobre como esse nome era compreendido e pronunciado na antiguidade. A evidência mais sólida da correta pronúncia do nome do ETERNO aponta para formas como “Iarué” ou “Yahuéh”, que seguem padrões fonológicos compatíveis com o hebraico bíblico, e encontram apoio em registros como a pronúncia do sufixo “yahu” presente em nomes teofóricos do Tanach, nas transliterações gregas de autores como Clemente de Alexandria e em inscrições cuneiformes da Babilônia que preservam nomes judaicos com o elemento “Yahu” vocalizado.

A primeira parte do nome, composta pelas letras yod e hê, é vocalizada como Yah, que em português corresponde a “Iá”. Essa forma aparece claramente preservada na expressão Haleluyah, que significa “louvem a Yah”, repetida em diversos Salmos. Quando se acrescenta a letra vav, formando o trigrama YHW, a vocalização se torna Yahu ou “Iáru”. Isso é confirmado em dezenas de nomes teofóricos como Yeshayahu (Isaías), Yirmeyahu (Jeremias) e Eliyahu (Elias), entre outros. Esses nomes funcionam como testemunhos linguísticos vivos, preservando a sonoridade do nome divino em contextos distintos, seja no início ou no fim da palavra.

Ao completarmos o tetragrama com a última letra, hê, a pronúncia mais coerente se torna “Yahuéh” ou “Iarué”. Essa vocalização é sustentada por registros antigos, incluindo transliterações gregas, textos em cuneiforme e manuscritos aramaicos. Fontes como a Peshitta, que preserva a fonética do aramaico utilizado pelos primeiros discípulos de Yeshua, bem como inscrições cuneiformes de Nippur e nomes próprios encontrados em contextos históricos, reforçam essa vocalização. A escolha por “Iarué” em português oferece um equivalente acessível e foneticamente respeitoso à forma hebraica original. Essa vocalização, ainda que tenha variações naturais de sotaque entre regiões, mantém o eixo fonético do nome e o respeita em sua raiz verbal ligada ao verbo “ser” no hebraico.

Em contraste, formas como “Jeová” e “Yehová” surgiram muito mais tarde e são resultado de vocalizações artificiais inseridas por copistas medievais, especialmente a partir do século X. Os massoretas, ao desejarem impedir a pronúncia do nome sagrado, inseriram as vogais de Adonai no Tetragrama, criando uma forma híbrida jamais usada pelo povo de Israel em sua forma original. Essa forma foi transliterada mais tarde no Ocidente, resultando em “Jeová”, uma invenção que uniu as consoantes de YHWH com vogais de outro termo, e que inclui ainda a letra “J”, inexistente no hebraico.

Recuperar a vocalização mais próxima do original é também recuperar o vínculo que o nome estabelece entre o ETERNO e seu povo. Não se trata apenas de dizer corretamente, mas de restaurar uma memória espiritual que foi apagada por tradições humanas. O nome de YHWH deve ser lembrado, louvado, proclamado e vivido. Pronunciá-lo com entendimento e reverência é reconhecer que Ele não se ocultou, mas se revelou, e que seu nome continua sendo uma chave para a comunhão, para a fidelidade e para a restauração da verdade em meio à confusão gerada por séculos de substituições e silêncios.

Restaurar esse nome não significa apenas repetir certas letras. É recuperar o respeito, a fidelidade, o entendimento e a identidade que o nome carrega. Não basta pronunciar corretamente. É necessário viver de forma coerente com o caráter que esse nome expressa. O ETERNO é justiça, e por isso devemos praticar a justiça. Ele é misericórdia, e por isso devemos agir com compaixão. Ele é santidade, e por isso somos chamados a viver em santidade. Como afirma o salmista: “os que conhecem o teu nome confiam em ti” (Salmo 9:10). Conhecer o nome do ETERNO é mais do que saber pronunciá-lo. É reconhecê-lo, submeter-se a Ele e confiar plenamente em sua aliança.

Quando Yeshua declarou em oração: “eu lhes fiz conhecer o teu nome” (João 17:26), Ele não se referia apenas a sons vocálicos ou à fonética correta do tetragrama. A revelação do nome que o Messias realizou estava diretamente ligada à manifestação do caráter do ETERNO por meio de sua própria vida. A cada ensinamento, a cada ato de compaixão, a cada correção justa, Yeshua transmitia ao mundo a essência daquele que é santo, misericordioso, fiel e justo. O nome, nesse contexto, não era apenas pronunciado com os lábios, mas vivido de maneira plena, encarnada, diante dos homens.

Ao viver de forma irrepreensível, ao ensinar com autoridade, ao amar com entrega e ao julgar com justiça, Yeshua revelava ao mundo o verdadeiro significado do nome que deveria ser lembrado de geração em geração (Êxodo 3:15). Quando Yeshua ensinava, curava, perdoava e confrontava a hipocrisia, Ele estava mostrando ao mundo quem é YHWH. Sua fidelidade absoluta à Torá, sua misericórdia com os pecadores e sua firmeza contra a injustiça revelavam, em carne e sangue, o nome que por séculos havia sido ocultado. Conhecer esse nome é, acima de tudo, reconhecer o caráter santo, eterno e imutável que se fez presente entre os homens.

Em suma, compreender o nome do ETERNO é entrar em contato direto com aquilo que Ele revelou sobre si mesmo, tanto em palavras quanto em ações. Mais do que resgatar uma pronúncia correta, trata-se de restaurar o sentido espiritual e profético que esse nome carrega ao longo das Escrituras. O nome não deve ser tratado como tabu nem como fórmula, mas como memória viva de uma aliança. Preservá-lo com entendimento é um ato de reverência, mas também de fidelidade à verdade revelada. Nesse sentido, a restauração do nome é inseparável da restauração do compromisso com o próprio ETERNO.

Seja Iluminado!!!




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