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Yeshua proíbe julgar o outro?

 Por Cleiton Gomes


O capítulo 7 de Mateus tem sido alvo de muitas controvérsias. Há quem afirme que Yeshua proibiu qualquer tipo de julgamento, considerando todo ato de correção como hipocrisia. A partir dessa leitura superficial, muitos se sentem ofendidos quando alguém tenta aconselhá-los com base na verdade.

No entanto, o próprio contexto do ensino mostra outra realidade. Yeshua usa uma imagem exagerada para revelar o contraste entre enxergar o pequeno defeito do outro e ignorar o próprio erro. Essa figura de linguagem, comum no ensino hebraico, reflete o método dos sábios que transmitiam verdades espirituais por meio de comparações e ironias.

O foco do discurso é a condição interior de quem julga. Yeshua não proíbe que alguém exerça discernimento quando vive em retidão diante do ETERNO e busca uma vida humilde, justa e honrosa. O que ele condena é a hipocrisia de corrigir o outro sem primeiro corrigir a si mesmo. Por isso declara que “com a medida com que medirdes, vos medirão também” e adverte “não julgueis para que não sejais julgados”. Ele ensina que quem aplica o julgamento de forma injusta acabará sendo julgado pelo mesmo padrão que impõe aos outros.

Em João 7:24, o próprio Yeshua reforça o princípio do julgamento equilibrado ao dizer “não julgueis segundo a aparência, mas julgai com juízo justo”. Isso mostra que o discernimento ético é legítimo quando nasce da verdade, da misericórdia e da humildade. O erro não está em julgar, mas em fazê-lo sem pureza interior, sem amor e sem autocrítica.

As palavras de Yeshua também se harmonizam com a sabedoria judaica de seu tempo. O Talmud (Bava Batra 60b) ensina que “melhor é o que repreende a si mesmo do que aquele que julga o próximo”, e em Qumran os essênios enfatizavam a purificação pessoal antes da correção coletiva:

Nenhum homem deve repreender o seu próximo com ira ou de modo impaciente, nem falar com ele com espírito de dureza ou de maldade, mas com espírito de humildade e com amor pelo seu irmão. Não se deve odiar o homem por causa do seu erro, mas adverti-lo com fidelidade no dia em que se der testemunho de sua culpa.” (Regras da Comunidade, 1QS 5:24–26; 6:8–9)


Isso mostra que a correção era vista como um ato de pureza moral, e só poderia ser feita por quem estivesse espiritualmente limpo. No mesmo documento, é dito que cada membro deveria examinar-se a si mesmo diariamente (1QS 1:9–11) para não cair em hipocrisia, exatamente o princípio que Yeshua reforça em Mateus 7:5.

Ao usar a metáfora da trave e do cisco, Yeshua retoma essa tradição e a leva ao extremo, mostrando que o verdadeiro discípulo não busca corrigir o outro antes de transformar o próprio caráter. O julgamento hipócrita é comparado à cegueira espiritual, e o autoconhecimento é o primeiro passo para enxergar com clareza. Por isso ele conclui “tira primeiro a trave do teu olho, e então verás claramente para tirar o argueiro do olho do teu irmão”.

Na prática, o ensino de Yeshua é um chamado à integridade e à empatia. Dentro da comunidade, ele orienta que a correção seja feita com amor, após um processo de arrependimento pessoal. No plano individual, convida cada pessoa a olhar para dentro antes de apontar para fora, cultivando uma justiça que brota do coração e não do orgulho.

Em resumo, Mateus 7 não anula o discernimento do erro, mas exige coerência moral. Yeshua ensina que somente quem foi purificado e se humilhou diante do ETERNO pode ajudar o outro a ver. O autoconhecimento, o arrependimento e a humildade são as lentes que permitem enxergar a verdade com nitidez. Assim, o Mestre chama seus discípulos a exercerem um julgamento justo, moldado pela misericórdia, pela empatia e pela fidelidade à Torá.



Seja iluminado!!!



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